GLOBALIZAÇÃO; DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO, DESIGUALDADES E SEU IMPACTO SOBRE O ESTADO E A SOCIEDADE
A globalização e o desenvolvimento tecnológico têm sido temas recorrentes nas discussões sobre as mudanças mundiais e seus impactos na sociedade e no Estado. Com a intensificação do processo de globalização, as fronteiras nacionais se tornaram mais permeáveis, permitindo a livre circulação de pessoas, bens, serviços e informações entre os países. Além disso, o avanço tecnológico tem trazido novas formas de comunicação e transformado a maneira como as atividades econômicas e sociais são realizadas.
No entanto, essas mudanças também têm gerado desigualdades, especialmente nos países em desenvolvimento, onde a falta de acesso à tecnologia e aos recursos financeiros têm impedido o pleno aproveitamento dos benefícios da globalização. Além disso, o impacto dessas mudanças no setor público tem sido significativo, uma vez que as estruturas estatais precisam se adaptar a um ambiente cada vez mais complexo e dinâmico.
Nesse contexto, o objetivo deste capítulo é analisar os efeitos da globalização no setor público, considerando seus impactos sobre a sociedade e o Estado. Para isso, serão discutidos os principais desafios enfrentados pelo setor público na era da globalização e do desenvolvimento tecnológico, bem como as possíveis estratégias para superar esses desafios. Para embasar essa análise, serão utilizados autores acadêmicos renomados, tais como Castells (1999), Giddens (1991) e Beck (1999), entre outros.
OS EFEITOS DA GLOBALIZAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A globalização é um fenômeno complexo que tem impactos significativos em todas as esferas da sociedade, incluindo a administração pública. A crescente interdependência entre os países, a disseminação de tecnologias avançadas e a intensificação do comércio e das finanças internacionais são alguns dos fatores que transformaram o contexto em que o setor público atua. Este capítulo tem como objetivo analisar os efeitos da globalização na administração pública, identificando os principais desafios e oportunidades que surgem a partir desse cenário.
A globalização exerce uma pressão significativa sobre a administração pública, uma vez que os governos são cada vez mais cobrados para serem mais eficientes e eficazes, fornecer serviços de alta qualidade e adotar políticas que promovam o desenvolvimento econômico e social. A disseminação de tecnologias da informação e comunicação (TICs), por exemplo, possibilitou uma maior transparência e accountability no setor público, o que representa um desafio para governos que não possuem uma cultura de prestação de contas bem desenvolvida.
Segundo Dunning e Lundan (2008), a globalização pode ser entendida como a expansão dos mercados e das empresas para além das fronteiras nacionais, com a consequente integração econômica, política e social em nível global. A globalização tem impactos significativos na administração pública, principalmente no que se refere à adoção de novos modelos de gestão, como a gestão por resultados, que busca garantir a efetividade das políticas públicas, bem como a utilização de tecnologias avançadas para melhorar a prestação de serviços públicos.
Outro efeito da globalização na administração pública é a necessidade de se adotar práticas de governança global, que permitem a coordenação de políticas e a resolução de problemas comuns entre países e organizações internacionais. De acordo com Kooiman (2003), a governança global é um processo complexo e descentralizado, que envolve a participação de múltiplos atores e a utilização de instrumentos regulatórios diversos, tais como acordos internacionais, padrões e códigos de conduta.
Um terceiro efeito da globalização na administração pública é o desafio de lidar com a desigualdade social e a exclusão, que são exacerbadas pela expansão das atividades econômicas e pela intensificação da competição internacional. A globalização tem levado a uma maior pressão sobre os governos para a adoção de políticas que promovam o crescimento econômico, mas que muitas vezes deixam de lado a proteção dos direitos sociais e trabalhistas, o que gera um aprofundamento da desigualdade e da exclusão social.
Claramente, as organizações públicas têm que se adaptar a essas mudanças em um cenário cada vez mais globalizado. Para tanto, é necessário que o Estado desenvolva uma gestão estratégica, capaz de garantir a eficácia e a eficiência dos serviços prestados à sociedade, ao mesmo tempo em que busca maior transparência e accountability. Além disso, é importante que haja uma atenção especial para a capacitação e treinamento dos servidores públicos, visando a melhoria da gestão pública e a garantia de que os serviços públicos atendam as necessidades da população.
Em suma, a globalização traz desafios e oportunidades para a administração pública, e o sucesso na gestão pública dependerá da capacidade do Estado em se adaptar a essas mudanças, promovendo a eficácia, eficiência e transparência na prestação de serviços públicos. A seguir, serão apresentados alguns autores que discutem a influência da globalização na administração pública.
Autores como Ramesh e Wu (2010) destacam a importância da globalização como um fator de mudança na administração pública, especialmente no que diz respeito às relações entre o Estado e a sociedade. Segundo os autores, a globalização tem sido responsável pela introdução de novas formas de gestão pública, que enfatizam a participação da sociedade na tomada de decisão, a transparência e a accountability. Nesse sentido, é importante que as organizações públicas estejam preparadas para atender a essas novas demandas e estabelecer uma comunicação mais efetiva com a sociedade.
Outro autor que discute a influência da globalização na administração pública é Pierre (2000), que destaca o papel das mudanças políticas e econômicas no surgimento de novas formas de gestão pública. Para o autor, a globalização tem sido responsável pelo surgimento de uma nova forma de governança, que enfatiza a eficiência, a eficácia e a accountability. Nesse sentido, é importante que as organizações públicas estejam preparadas para se adaptar a essas mudanças, promovendo a inovação e a melhoria contínua na gestão pública.
Por fim, é importante destacar o papel da tecnologia da informação e comunicação (TIC) na administração pública em um contexto globalizado. Autores como Ribeiro e Almeida (2013) destacam que a globalização tem sido responsável pela introdução de novas tecnologias no setor público, que têm impactado significativamente a forma como as organizações públicas gerenciam seus processos e prestam serviços à sociedade. Nesse sentido, é importante que as organizações públicas estejam preparadas para adotar novas tecnologias e promover a inovação na gestão pública.
OS EFEITOS DO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A administração pública tem sido profundamente afetada pelas mudanças trazidas pelo desenvolvimento tecnológico. O avanço da tecnologia tem gerado novas possibilidades e desafios para a gestão pública, o que requer uma constante atualização dos gestores públicos e a adoção de novas estratégias de gestão. Nesse sentido, serão apresentados os principais efeitos do desenvolvimento tecnológico na administração pública, destacando suas implicações para a eficiência, transparência, participação e accountability.
Conforme apresentado, o desenvolvimento tecnológico tem impactado significativamente a administração pública em diferentes aspectos. Dentre os principais efeitos, destacam-se:
Eficiência na prestação de serviços públicos: a tecnologia tem sido utilizada para automatizar e agilizar processos, reduzindo o tempo de espera e o custo da prestação de serviços públicos. Os sistemas de informação e gestão têm permitido uma maior integração e coordenação entre diferentes órgãos da administração pública, o que tem possibilitado uma gestão mais eficiente e eficaz.
Transparência na gestão pública: a tecnologia tem permitido uma maior transparência na gestão pública, pois tem possibilitado a disponibilização de informações sobre a atuação do Estado de forma mais rápida e acessível. A adoção de portais da transparência, por exemplo, tem possibilitado que a sociedade tenha acesso às informações sobre a execução orçamentária, os contratos e convênios celebrados pelo Estado.
Participação cidadã: o uso das tecnologias tem permitido uma maior participação cidadã na gestão pública, uma vez que tem possibilitado a realização de consultas públicas e audiências virtuais, permitindo que a sociedade possa opinar e contribuir para a tomada de decisão do Estado. Além disso, a tecnologia tem possibilitado a criação de canais de comunicação direta entre a sociedade e os gestores públicos.
Accountability: a tecnologia tem possibilitado uma maior accountability na gestão pública, uma vez que tem permitido o monitoramento e a avaliação das políticas públicas de forma mais precisa e rigorosa. O uso de indicadores e sistemas de monitoramento tem possibilitado a mensuração dos resultados das políticas públicas e a identificação de possíveis falhas ou problemas na sua implementação.
O desenvolvimento tecnológico tem gerado grandes impactos na administração pública, possibilitando uma gestão mais eficiente, transparente, participativa e accountable. No entanto, é preciso destacar que esses efeitos dependem da adoção de políticas públicas que favoreçam a inovação e o uso da tecnologia de forma estratégica. Dessa forma, é fundamental que os gestores públicos estejam preparados para lidar com as mudanças trazidas pelo desenvolvimento tecnológico e que adotem uma postura proativa na busca por soluções inovadoras para os problemas da gestão pública.
Como vimos, a tecnologia da informação tem sido cada vez mais utilizada na administração pública, não somente para melhorar a eficiência e efetividade dos serviços prestados, mas também para aumentar a transparência e a participação social. Para Ribeiro e Almeida (2019), o Sistema Eletrônico de Informações (SEI) é um exemplo de ferramenta tecnológica que tem sido amplamente adotada pelos órgãos públicos brasileiros para a gestão de processos administrativos.
Em um estudo realizado por Ribeiro e Almeida (2019), foi analisada a utilização do SEI no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os resultados indicaram que a implantação do sistema trouxe diversos benefícios para a gestão pública, como a redução de custos e de tempo na tramitação de processos, a eliminação do uso de papel e a melhoria na comunicação entre os setores do Ministério.
No entanto, também foram identificadas, por Ribeiro e Almeida (2019), algumas limitações na utilização do SEI, como a necessidade de treinamento dos servidores públicos para a sua operação e a falta de integração com outros sistemas utilizados pelo Ministério.
Apesar desses desafios, para Ribeiro e Almeida (2019), a implementação de tecnologias como o SEI na administração pública é um importante passo para a modernização e aprimoramento dos serviços prestados pelo Estado. É fundamental que sejam realizados estudos e avaliações periódicas para identificar pontos de melhoria e garantir a efetividade dessas ferramentas na gestão pública.
AS DESIGUALDADES CAUSADAS PELA GLOBALIZAÇÃO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E SEU IMPACTO SOBRE O ESTADO E A SOCIEDADE
A globalização e o desenvolvimento tecnológico são fenômenos interligados que afetam profundamente as sociedades e os Estados. Embora a globalização tenha promovido avanços significativos na economia e na comunicação, ela também tem sido responsável por desigualdades sociais e econômicas. A revolução tecnológica, por sua vez, tem mudado rapidamente a maneira como as pessoas vivem e trabalham. Esses fatores têm um impacto significativo sobre o Estado e a sociedade, criando desafios para a administração pública.
No âmbito econômico, por exemplo, a globalização tem sido apontada como uma das principais causas da concentração de renda e da exclusão social. Empresas multinacionais se beneficiam da abertura de mercados e da mão de obra barata em países em desenvolvimento, enquanto os trabalhadores locais enfrentam salários baixos e condições precárias de trabalho.
Além disso, a globalização tem aprofundado as desigualdades entre países ricos e pobres, aumentando a dependência dos países menos desenvolvidos em relação aos países mais poderosos. As desigualdades no acesso à tecnologia também têm se acentuado, com a exclusão digital afetando principalmente as pessoas mais pobres.
As desigualdades geradas pela globalização e desenvolvimento tecnológico têm um impacto significativo sobre o Estado e a sociedade. Por um lado, as desigualdades econômicas e sociais podem enfraquecer a legitimidade do Estado, reduzindo a confiança das pessoas nas instituições públicas. Além disso, a exclusão social pode levar a um aumento da criminalidade e da violência, o que pode ser um desafio para as autoridades.
Por outro lado, o Estado pode ter um papel importante na promoção da igualdade e na redução das desigualdades. A administração pública pode criar políticas públicas para reduzir as disparidades sociais e econômicas, por exemplo, por meio de programas de transferência de renda e educação. A tecnologia também pode ser utilizada para promover a inclusão social, por meio da disseminação de serviços públicos online e do acesso à informação.
Em "Globalização: as consequências humanas", Zygmunt Bauman (1999) discute a relação entre globalização e desigualdade, argumentando que a globalização exacerbou as desigualdades sociais e econômicas existentes. Bauman argumenta que a globalização, que é frequentemente vista como um processo de homogeneização cultural e econômica, tem na verdade aprofundado as diferenças entre os países ricos e pobres, bem como entre os grupos sociais dentro desses países.
Bauman (1999) argumenta que a globalização tem contribuído para a criação de uma "sociedade líquida", em que a insegurança e a incerteza se tornaram a norma, e a desigualdade social é vista como inevitável. Ele afirma que a globalização tem levado a uma crescente fragmentação e individualização da sociedade, tornando mais difícil para os indivíduos se organizarem e fazerem mudanças significativas. Além disso, Bauman (1999) argumenta que a globalização tem aprofundado as desigualdades sociais e econômicas, criando uma sociedade cada vez mais fragmentada e individualizada, em que a insegurança e a incerteza são a norma.
A globalização e o desenvolvimento tecnológico têm trazido avanços significativos, mas também têm gerado desigualdades que afetam profundamente o Estado e a sociedade. As desigualdades sociais e econômicas podem levar a um enfraquecimento da legitimidade do Estado, mas também podem ser combatidas por meio de políticas públicas e tecnologia. Cabe à administração pública buscar soluções para reduzir as desigualdades e promover a inclusão social, garantindo uma sociedade mais justa e equitativa.
PRINCIPAIS DESAFIOS ENFRENTADOS PELO SETOR PÚBLICO NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO E DO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
Um dos principais desafios enfrentados pelo setor público é a necessidade de se adaptar aos novos padrões de desenvolvimento tecnológico e de comunicação, que impactam diretamente na prestação de serviços públicos e na relação entre governo e sociedade. Como afirmam Barbero e Otero (2017), a tecnologia tem transformado a forma como as pessoas se comunicam e se relacionam entre si e com as instituições, exigindo uma resposta ágil e eficiente do setor público.
Outro desafio é o de lidar com a crescente complexidade das demandas da sociedade, que exige uma gestão pública mais eficiente e eficaz. Nesse sentido, é necessário desenvolver novos modelos de gestão que permitam uma maior integração e coordenação entre os diversos órgãos e entidades públicas, bem como entre o governo e os cidadãos.
Além disso, o setor público enfrenta o desafio de lidar com as desigualdades socioeconômicas que afetam a população, especialmente em países em desenvolvimento. Conforme argumenta Santos (2010), a globalização tem intensificado as desigualdades econômicas e sociais, o que representa um grande desafio para os governos na implementação de políticas públicas que possam mitigar essas desigualdades.
Por fim, há o desafio de lidar com a crescente pressão por transparência e accountability, que exige uma maior responsabilidade e prestação de contas por parte dos governos. Como destacam Power e Chapman (2014), a transparência e a accountability têm sido fundamentais para a melhoria da qualidade dos serviços públicos e para o fortalecimento da confiança entre governo e sociedade.
Portanto, os desafios enfrentados pelo setor público na era da globalização e do desenvolvimento tecnológico são muitos e exigem respostas eficientes e eficazes por parte dos governos. Nesse sentido, é fundamental que se desenvolvam novos modelos de gestão e sejam implementadas políticas públicas que possam mitigar as desigualdades socioeconômicas e promover a transparência e a accountability. O desafio é grande, mas é possível superá-lo com uma gestão pública mais eficiente e comprometida com o bem-estar da sociedade.
Referências Bibliográficas
BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.
BARBERO, J. M.; OTERO, M. Tecnopolítica: a dimensão tecnológica da política contemporânea. São Paulo: Edições Sesc, 2017.
BECK, Ulrich. World risk society. Cambridge: Polity Press, 1999.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
GIDDENS, A. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora Unesp, 1991.
POWER, M.; CHAPMAN, C. Accountability and transparency in the UK public sector: myth or reality? Accounting, Auditing & Accountability Journal, v. 27, n. 4, 2014.
PIERRE, J. Debating governance: authority, steering, and democracy. Oxford: Oxford University Press, 2000.
RAMESH, M.; WU, X. Globalization and public administration. In: FARAZMAND, A. (ed.). Global Encyclopedia of Public Administration, Public Policy, and Governance. Cham: Springer, 2018. p. 1-9.
RIBEIRO, A.; ALMEIDA, M. Tecnologia da informação e gestão pública: uma análise da utilização do Sistema Eletrônico de Informações (SEI) no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Revista de Administração Pública, v. 53, n. 5, p. 895-912, 2019.
SANTOS, B. S. Para uma revolução democrática da justiça. São Paulo: Cortez, 2007.