6 AVALIAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE INDICADORES DE DESEMPENHO
A avaliação e interpretação de indicadores de desempenho é um processo crucial para a gestão eficiente e eficaz das organizações. Esses indicadores são ferramentas importantes para medir e acompanhar o desempenho das atividades em relação aos objetivos e metas estabelecidos, permitindo identificar possíveis desvios e oportunidades de melhoria. A análise dos resultados dos indicadores, a identificação de tendências e padrões e a interpretação dos dados obtidos são etapas fundamentais para a tomada de decisão. Nesse sentido, a literatura especializada apresenta diversas abordagens e técnicas que podem ser utilizadas para a avaliação e interpretação dos indicadores de desempenho, que serão discutidas a seguir.
6.1 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS INDICADORES DE DESEMPENHO
A avaliação da qualidade do indicador de resultado selecionado pode ser realizada por meio da análise dos critérios de utilidade, representatividade, confiabilidade metodológica, confiabilidade da fonte, disponibilidade, economicidade, simplicidade de comunicação, estabilidade, tempestividade e sensibilidade.
Utilidade: avalia se o indicador é relevante e útil para a tomada de decisão. É importante verificar se o indicador está alinhado com os objetivos da organização e se sua utilização contribui para a melhoria do desempenho.
Representatividade: avalia se o indicador reflete adequadamente a realidade que se pretende medir. É importante verificar se o indicador é capaz de refletir o fenômeno que se deseja mensurar, se é válido e se abrange a população ou amostra de interesse.
Confiabilidade metodológica: avalia se o indicador é medido de forma consistente e confiável ao longo do tempo. É importante verificar se os métodos de coleta de dados e cálculo do indicador são padronizados, bem documentados e replicáveis.
Confiabilidade da fonte: avalia se a fonte de dados é confiável e se os dados são precisos e consistentes. É importante verificar se a fonte de dados é reconhecida e confiável, se os dados foram coletados de forma precisa e se são consistentes ao longo do tempo.
Disponibilidade: avalia se os dados necessários para o cálculo do indicador estão disponíveis. É importante verificar se os dados estão disponíveis em tempo hábil e se são de fácil acesso.
Economicidade: avalia se o custo de coleta e processamento dos dados é justificado pelo benefício do indicador. É importante verificar se o custo-benefício da coleta e processamento dos dados é adequado.
Simplicidade de comunicação: avalia se o indicador é fácil de entender e comunicar para as partes interessadas. É importante verificar se o indicador é compreensível para o público-alvo e se pode ser comunicado de forma clara e objetiva.
Estabilidade: avalia se o indicador é estável ao longo do tempo e se as mudanças são significativas ou não. É importante verificar se o indicador apresenta flutuações insignificantes ou se as variações são relevantes para a tomada de decisão.
Tempestividade: avalia se o indicador é disponibilizado em tempo hábil para a tomada de decisão. É importante verificar se o indicador é atualizado regularmente e se está disponível em tempo hábil para a tomada de decisão.
Sensibilidade: avalia se o indicador é capaz de identificar variações significativas no desempenho. É importante verificar se o indicador é sensível o suficiente para detectar mudanças relevantes no desempenho.
EXEMPLOS
Exemplo 1: area da saúde
Um exemplo na área da saúde seria a avaliação do indicador "Taxa de mortalidade infantil".
Utilidade: A taxa de mortalidade infantil é um indicador útil para avaliar a eficácia das políticas públicas de saúde voltadas para o atendimento de gestantes e recém-nascidos.
Representatividade: O indicador é representativo pois mede a mortalidade de crianças com menos de um ano de idade, que é um grupo populacional vulnerável e de grande relevância para a saúde pública.
Confiabilidade metodológica: O cálculo da taxa de mortalidade infantil é baseado em uma metodologia padronizada e bem estabelecida pela Organização Mundial da Saúde, o que garante a confiabilidade metodológica do indicador.
Confiabilidade da fonte: Os dados para o cálculo do indicador são coletados pelos sistemas de saúde e pela vigilância epidemiológica, que são fontes confiáveis e com protocolos bem definidos para a coleta e registro de informações.
Disponibilidade: Os dados necessários para o cálculo do indicador estão disponíveis nos sistemas de saúde e podem ser acessados pelos gestores e técnicos de saúde.
Economicidade: O cálculo da taxa de mortalidade infantil é relativamente simples e não requer grande investimento em termos de recursos financeiros ou humanos.
Simplicidade de comunicação: A taxa de mortalidade infantil é um indicador de fácil entendimento e comunicação, o que facilita a disseminação das informações para a população e para os gestores de saúde.
Estabilidade: A taxa de mortalidade infantil é um indicador estável, pois apresenta variações temporais relativamente pequenas, o que permite a comparação entre diferentes períodos e regiões.
Tempestividade: Os dados para o cálculo do indicador são disponibilizados com frequência regular, o que permite a avaliação em tempo hábil da eficácia das políticas públicas de saúde.
Sensibilidade: A taxa de mortalidade infantil é um indicador sensível pois é capaz de identificar mudanças significativas na saúde das gestantes e dos recém-nascidos.
Resultado da análise: segundo os critérios mencionados na resposta anterior, a taxa de mortalidade infantil pode ser considerada um bom indicador de qualidade na área da saúde. Ela apresenta utilidade, representatividade, confiabilidade metodológica, confiabilidade da fonte, disponibilidade, simplicidade de comunicação, estabilidade, tempestividade e sensibilidade, que são critérios importantes para avaliar a qualidade de um indicador. No entanto, é importante considerar que nenhum indicador é perfeito e sempre há possibilidade de melhorias na sua coleta e análise.
Exemplo 2: educação
Vamos supor que o indicador selecionado seja a Taxa de Abandono Escolar no Ensino Médio. A seguir, analisaremos sua qualidade de acordo com os critérios estabelecidos:
Utilidade: O indicador é útil, pois mede o percentual de alunos que abandonam a escola no ensino médio, permitindo identificar possíveis problemas relacionados à evasão escolar e tomar medidas para reduzi-la.
Representatividade: O indicador é representativo, pois considera todos os alunos matriculados no ensino médio da instituição.
Confiabilidade metodológica: A metodologia de cálculo da taxa de abandono escolar é bem estabelecida e padronizada, garantindo a confiabilidade metodológica do indicador.
Confiabilidade da fonte: A fonte de dados utilizada para o cálculo do indicador é confiável e apresenta informações precisas e atualizadas.
Disponibilidade: Os dados necessários para o cálculo do indicador estão disponíveis com facilidade e de forma acessível, permitindo sua atualização e monitoramento periódico.
Economicidade: O cálculo do indicador é relativamente simples e não exige recursos financeiros significativos.
Simplicidade de comunicação: O indicador é de fácil compreensão e comunicação, podendo ser apresentado de forma clara e objetiva para diferentes públicos.
Estabilidade: O indicador é estável, pois é possível acompanhar sua evolução ao longo do tempo e identificar variações significativas.
Tempestividade: Os dados para o cálculo do indicador são atualizados com frequência adequada, permitindo monitorar o desempenho da instituição e tomar medidas corretivas de forma oportuna.
Sensibilidade: O indicador é sensível, pois é capaz de detectar pequenas variações no comportamento dos alunos e sua relação com o abandono escolar.
Com base na análise acima, pode-se concluir que a Taxa de Abandono Escolar no Ensino Médio é um bom indicador para avaliar a qualidade do desempenho da instituição de ensino na área da educação.
Exemplo 3: segurança pública
Um exemplo de indicador de segurança pública que pode ser avaliado de acordo com os critérios mencionados é a taxa de criminalidade por 100 mil habitantes em determinada região.
Utilidade: O indicador é útil, pois reflete o nível de criminalidade em uma área geográfica específica e pode ser usado para avaliar a eficácia das políticas e estratégias de segurança pública implementadas.
Representatividade: O indicador é representativo, pois leva em consideração o número de crimes cometidos em relação à população da região.
Confiabilidade metodológica: É importante garantir que a metodologia de coleta e cálculo dos dados seja confiável e padronizada, a fim de evitar distorções nos resultados.
Confiabilidade da fonte: A fonte dos dados utilizados para calcular o indicador é confiável e atualizada, para garantir a precisão dos resultados.
Disponibilidade: O indicador é fácil de ser acessado pelo público e atualizado com frequência.
Economicidade: O custo de coletar e calcular o indicador é razoável e justificável em relação ao benefício que traz.
Simplicidade de comunicação: O indicador é fácil de entender e comunicar para o público em geral.
Estabilidade: O indicador é estável ao longo do tempo e não sofrer grandes variações devido a fatores externos que não estejam diretamente relacionados à criminalidade.
Tempestividade: os dados utilizados para calcular o indicador são atualizados com frequência, para que as informações sejam relevantes e atuais.
Sensibilidade: O indicador é sensível o suficiente para capturar mudanças significativas na criminalidade em uma região, a fim de permitir uma tomada de decisão rápida e eficaz.
Resultado: com base na análise acima, pode-se concluir que a taxa de criminalidade por 100 mil habitantes é um bom indicador para avaliar a qualidade do desempenho da segurança pública.
Exemplo 4: meio ambiente
Um exemplo de indicador na área do meio ambiente que pode ser avaliado de acordo com os critérios mencionados é a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
Utilidade: O indicador é útil, pois a concentração de CO2 na atmosfera é um importante indicador de mudanças climáticas e impactos no meio ambiente.
Representatividade: O indicador é representativo, pois a concentração de CO2 na atmosfera é medida em todo o mundo, em diferentes locais e em diferentes altitudes.
Confiabilidade metodológica: O indicador é confiável metodologicamente, pois a medição da concentração de CO2 na atmosfera é feita com base em métodos científicos bem estabelecidos e padronizados.
Confiabilidade da fonte: A fonte de dados para o indicador é confiável, pois é obtida a partir de medições realizadas por instituições respeitadas e com credibilidade na área de pesquisa do clima.
Disponibilidade: O indicador tem boa disponibilidade, pois a concentração de CO2 na atmosfera é medida regularmente em muitos locais ao redor do mundo.
Economicidade: O indicador é relativamente econômico, pois as medições podem ser realizadas por meio de equipamentos automatizados e sensores.
Simplicidade de comunicação: O indicador pode ser facilmente comunicado ao público em geral, pois a concentração de CO2 na atmosfera é uma medida conhecida e compreendida pela maioria das pessoas.
Estabilidade: O indicador é relativamente estável, pois a concentração de CO2 na atmosfera é uma medida que varia lentamente ao longo do tempo, o que permite a identificação de tendências a longo prazo.
Tempestividade: O indicador é relativamente tempestivo, pois a concentração de CO2 na atmosfera é medida regularmente e os dados são disponibilizados em intervalos de tempo curtos.
Sensibilidade: O indicador é sensível às mudanças no clima e no meio ambiente, pois a concentração de CO2 na atmosfera é afetada pela atividade humana e pelas mudanças naturais no ecossistema terrestre.
Resultado: A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera é um indicador relevante para a avaliação da qualidade do meio ambiente.
ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS INDICADORES DE DESEMPENHO
A análise dos resultados dos indicadores de desempenho é uma etapa fundamental para a gestão efetiva de uma organização. Essa análise permite identificar pontos fortes e fracos do desempenho da organização, além de orientar decisões estratégicas para a melhoria contínua.
Segundo Neely et al. (2002), a análise dos resultados dos indicadores de desempenho pode ser feita por meio de três abordagens: análise de tendência, benchmarking e análise de variação.
A análise de tendência consiste em analisar a evolução dos resultados ao longo do tempo, identificando padrões e variações. Essa abordagem permite identificar se o desempenho está melhorando, piorando ou mantendo-se estável ao longo do tempo. Além disso, é possível identificar possíveis causas de variações no desempenho.
Já o benchmarking é uma abordagem que consiste em comparar o desempenho da organização com outras organizações ou referências externas. Essa abordagem permite identificar boas práticas e oportunidades de melhoria em relação a outras organizações.
Por fim, a análise de variação consiste em analisar as variações nos resultados em relação às metas estabelecidas. Essa abordagem permite identificar desvios e causas de variações em relação às metas, orientando ações corretivas.
De acordo com Biazzo et al. (2015), a análise dos resultados dos indicadores de desempenho deve ser realizada de forma sistemática e rigorosa, por meio de métodos estatísticos e ferramentas de análise de dados. Além disso, é importante que os resultados sejam comunicados de forma clara e objetiva para as partes interessadas, como gestores, colaboradores e clientes.
IDENTIFICAÇÃO DE TENDÊNCIAS E PADRÕES
A identificação de tendências e padrões é uma etapa importante na análise dos resultados dos indicadores de desempenho, pois permite identificar como as variáveis estão evoluindo ao longo do tempo e se há algum comportamento cíclico ou sazonal.
De acordo com Rummel e Ballaine (1963), uma tendência é a variação contínua, crescente ou decrescente, de uma série de dados ao longo do tempo, enquanto um padrão é a repetição de variações que ocorrem em intervalos regulares de tempo. Para identificar essas tendências e padrões, podem ser utilizadas diversas técnicas estatísticas, tais como a análise de regressão, a análise de séries temporais e a análise de correlação.
Segundo Moreira e Dias (2013), a análise de regressão é uma técnica que permite estimar a relação entre uma variável dependente e uma ou mais variáveis independentes. Já a análise de séries temporais é uma técnica que permite identificar a presença de padrões temporais em uma série de dados, como por exemplo sazonalidade ou ciclicidade. A análise de correlação, por sua vez, permite avaliar a relação entre duas variáveis, verificando se elas estão positiva ou negativamente correlacionadas.
Além dessas técnicas estatísticas, também é importante realizar uma análise visual dos dados, por meio de gráficos e tabelas, para identificar de forma mais clara as tendências e padrões presentes nos dados. Segundo Tufte (2001), a visualização dos dados é uma etapa fundamental na análise dos resultados dos indicadores de desempenho, pois permite identificar padrões e tendências que podem não ser evidentes na análise numérica dos dados.
INTERPRETAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS E TOMADA DE DECISÃO
A interpretação dos dados obtidos a partir dos indicadores de desempenho é uma etapa fundamental para a tomada de decisão. Segundo Biazzo e Lacerda (2016), a interpretação dos dados deve ser baseada em uma análise crítica e reflexiva, levando em consideração o contexto em que os indicadores estão inseridos. Os autores destacam que a interpretação dos resultados deve levar em conta os objetivos estabelecidos, as metas definidas e as estratégias adotadas, a fim de identificar possíveis desvios e oportunidades de melhoria.
Já segundo Franco (2012), a interpretação dos dados deve ser feita considerando-se a história da organização, a sua cultura, a sua estrutura e os seus processos, bem como as necessidades e expectativas dos seus stakeholders. O autor destaca que a interpretação dos dados deve levar em conta não apenas o desempenho passado da organização, mas também as tendências e perspectivas futuras.
A tomada de decisão a partir da interpretação dos dados obtidos a partir dos indicadores de desempenho deve ser embasada em critérios objetivos e transparentes, conforme destacam Biazzo e Lacerda (2016). Os autores ressaltam que é importante que as decisões sejam tomadas de forma participativa, envolvendo todos os setores da organização e os stakeholders relevantes.
Referências Bibliográficas
BIATRIZ, D. S. S. et al. Aplicação de indicadores de desempenho no setor público. Revista Eletrônica Gestão & Serviços, v. 6, n. 1, p. 1241-1256, 2015.
BIAZZO, R. M. F.; LACERDA, R. T. Indicadores de desempenho e a gestão estratégica de pessoas: um estudo de caso em uma empresa do setor elétrico. Revista de Administração FACES Journal, v. 15, n. 2, p. 87-104, 2016.
FRANCO, S. R. Indicadores de desempenho na gestão de pessoas. 2012. 134 f. Tese (Doutorado em Administração) - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
MOREIRA, D. A.; DIAS, M. A. Análise da correlação entre indicadores de desempenho e o desempenho financeiro das empresas. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 37., 2013, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2013.
NEELY, A. et al. The performance prism: The scorecard for measuring and managing business success. Prentice Hall, 2002.
RUMMEL, R. J.; BALLAINE, R. L. Applied factor analysis. Evanston: Northwestern University Press, 1963.
TUFT, E. R. The visual display of quantitative information. 2. ed. Cheshire: Graphics Press, 2001.