As 5 Forças de Porter, originalmente desenvolvidas para analisar a concorrência no setor privado, podem ser adaptadas para o contexto do serviço público. Contudo, há necessidade de algumas adaptações.

Novos entrantes
A chegada de novos entrantes não se dá como em mercados privados, mas em termos de novas iniciativas ou novos órgãos públicos que podem surgir para atender a uma demanda não coberta. Por exemplo, o governo pode criar novas agências ou iniciativas para resolver problemas específicos que o serviço público existente ainda não consegue resolver eficientemente. Isso pode inclusive ser objeto de parceria do órgão para atender uma demanda que ele não possui capacidade de enfrentar.
Por outro lado, os conflitos de competência/atribuição podem gerar burocracias excessivas e ineficiência do serviço.

Poder de barganha (fornecedores):
No serviço público, usa-se a licitação, que traz benefícios e prejuízos. Há maior transparência de forma geral, mas o conjunto de regras pode gerar ineficiência e até prejuízos por não possibilitar o atendimento das demandas, ficando o órgão sem conseguir adquirir certos insumos.
Ademais, o poder de barganha depende de quantidade de fornecedores disponíveis e da dependência do serviço público de um fornecedor específico.

Poder de barganha (clientes):
Embora o poder de barganha individual de um cidadão seja baixo, o poder coletivo pode ser muito forte, especialmente se houver pressão pública por melhor qualidade de serviços ou mais transparência.

Substitutos:
Essa ameaça pode se manifestar como alternativas privadas ou outras formas de prestação de serviços que atendem às mesmas necessidades da população. Por exemplo, serviços de saúde privados ou escolas particulares podem ser vistos como substitutos para os serviços públicos oferecidos pelo governo.
Essa ameaça também pode ser percebida como uma oportunidade e, portanto, deve-se analisar e estudar quais serviços deverão ser focados, assim como para quem serão prestados.

Concorrentes:
A competição entre diferentes órgãos ou níveis de governo para recursos, atenção pública ou a eficiência na prestação de serviços. Isso inclui rivalidades entre órgãos federais, estaduais e municipais, ou até entre diferentes agências reguladoras ou autoridades dentro do mesmo setor. A rivalidade tem seu aspecto mais forte na questão orçamentária.

As 5 Forças de Porter têm uma configuração única e desafiadora na análise estratégica de uma assessoria de dados no setor público. Um ambiente onde a descontinuidade política pode redesenhar completamente o escopo de trabalho a cada nova gestão, exige flexibilidade e resiliência técnica.

A burocracia se apresenta como um obstáculo constante, criando impasses administrativos que testam a capacidade de toda equipe em trabalhar em processos complexos e morosos. Cada decisão precisa ser cuidadosamente planejada, considerando as múltiplas camadas de aprovação governamental.

As demandas da sociedade são diversificadas e estimulam esse setor a desenvolver uma capacidade muito apurada de interpretação e resposta. Diferentes grupos sociais, cada um com suas expectativas específicas, pressionam por transparência e resultados precisos.

O poder de barganha dos fornecedores de tecnologia e informação adiciona outra camada de complexidade. Limitações orçamentárias restringem a aquisição de soluções inovadoras, forçando a equipe a ser criativa e eficiente com recursos limitados que o órgão público disponibiliza.

O interesse político permeia todo o ambiente, exigindo um equilíbrio delicado entre neutralidade técnica e alinhamento estratégico. A assessoria de dados precisa saber diferenciar o tipo de demanda que recebe, principalmente em relação aos objetivos pretendidos.

Para sobreviver e prosperar nesse cenário, é fundamental desenvolver estratégias adaptativas. Isso significa criar metodologias flexíveis, canais múltiplos de comunicação, planos de continuidade independentes de mudanças políticas e uma cultura organizacional resiliente.

O segredo está em transformar essas limitações em oportunidades, convertendo dados brutos em inteligência estratégica capaz de transcender os desafios burocráticos e políticos tradicionais.

As 5 forcas de Poter são um ferramenta estratégica de grande relevância para a eficiência do setor público, pois ajuda os gestores na identificação de dinâmicas que afetam seu desempenho.

Trago abaixo algumas reflexões sobre as referidas forças:

O Poder de Barganha dos Fornecedores reflete a dependência que os órgãos públicos têm de empresas terceirizadas, o que pode gerar impactos como: imposição de altos preços em produtos muito específicos e falta de concorrência.

Já o Poder de Barganha dos Consumidores ( no caso os cidadãos) reflete o poder da sociedade exigir serviços eficientes e de qualidade. Um reflexo disso é a necessidade da constante prestação de contas e transparência das informações. Cidadãos insatisfeitos podem (com razão) pressionar por mudanças.

No setor público, Novos Entrantes podem ser empresas privadas, ONGs ou modelos inovadores de governança que desafiam o status quo. Esse tipo de concorrência é muito benéfica, pois gera uma necessidade de inovação e adequação para formas mais eficientes de trabalho.

A Ameaça de Produtos ou Serviços Substitutos refere-se aos casos em que há alternativas ao serviço prestado pelo serviço publico, como escolas, hospitais, etc.
Quanto mais o cidadão depende de serviços privados, menor é seu grau de confiança no setor publico. Contudo, há momentos em que ter alternativas privadas representa uma chance de desinchar a máquina publica e manter apenas o que é essencial sob a tutela do Estado.

Por fim, trago a Rivalidade entre Concorrentes. Como consequência positiva dessa força podemos citar que órgãos com melhor desempenho podem servir de referência e modelo, criando uma cultura de competição saudável.